O que vale a pena?

Olá Mamãe,

Tudo bem? Sei que ainda faltam muitos meses para que o mundo abra suas portas para mim. Quanta ansiedade ai fora, não é mesmo. E conheço bem suas preocupações. Apesar de não poder ver, sinto todas elas. Sempre.

Sei quando está triste, quando está feliz, quando está preocupada. E sei também quando precisa de carinho, de proteção, de afeto. Eu sempre mando tudo o que precisa, você tem recebido? Será que está sendo o suficiente? Se faltar, me avisa, que forneço mais.

Vocês mães tem a ilusão de que fomos feitos para sermos protegidos, embalados, mimados. Como a mais frágil das criaturas, como a mais delicada das flores. Pobres mães. Ingênuas mamães. Daqui, mesmo daqui, já sei que tudo isso não passa de mais um mito da gravidez e de todo o resto.

E já te aviso logo, não vim a passeio. Vim para ficar, para fazer a diferença, para ser a presença que faltava. Eu vim porque você me chamou, me esperou, me planejou, me quis mais que tudo nessa vida.

Eu vim para te dar força, para te ensinar a lutar, para te ensinar a superar, a vencer, mesmo quando a derrota parece eminente. Eu vim para te transformar. Você que sempre se achou a ponto de desabar, vai ser o alicerce mais forte, a rocha mais resistente.

Não fique angustiada, achando que não saberá quando terá que ser assim e em que momentos tudo será diferente. Apenas será. Esse é o milagre da vida. Você acredita em milagres, né mamãe?

Queria apenas acalmar seu coração. Dizer que está tudo bem comigo. Confesso estar ansioso para tomar posse, para chegar, para estrear na vida que está sendo cuidadosamente preparada para mim. Sonho com o dia que estarei em seus braços, que sentirei seu calor como um manto de proteção. O dia que serei acolhido por suas lágrimas de emoção, como desabafo de uma alma que não se contenta de alegria.

Por isso, peço calma. Para mim, para você e para o papai. Daqui a alguns meses eu to chegando. Peço também paciência com o mundo. Ás vezes sentimos vontade de chutar o balde, de sumir, de desaparecer, de rebobinar o tempo e parar na última cena em que nos sentimos felizes.

Esse é o problema mamãe. Não podemos escolher nossas cenas. Não podemos voltar atrás e muito menos avançar. Obrigatoriamente, vamos ter um capítulo após o outro. E pior ainda. Nem sempre iremos contracenar com os atores que queremos.

Difícil né. Eu sei. Mas sei de mais coisa. Sei que procuramos motivos para dramaticidar a vida. Para complicar o que pode ser simples. Temos a arte de bagunçar o processo, de revirar o que já estava arrumado. De não entender o que nós mesmos explicamos.

Essa é a sua vida. Você a fez. Você a escreveu. Será que é tão ruim. Será que é ruim o suficiente para parecer uma batalha a ser superada todos os dias? Você aprendeu tanto a viver em superação que nem percebeu o dia que poderia sair da retaguarda e apenas viver, sem poréns.

Não estou dizendo que não tem problemas. Nossa, como sei que tem. Só estou dizendo que está tão apressada, que nem notou que a vida te adotou. Que quem realmente importa está muito mais para protagonista do que os coadjuvantes que sempre tentam atrapalhar.

E você nem pode reclamar. Você escolheu estar nessa página. E mesmo achando ás vezes que não fez algumas escolhas certas, ganha a cada dia a prova de que a vida foi feita simplesmente para ser vivida.

Olhe agora em sua volta. Pese tudo que conquistou, que conseguiu. Sinta o amor incondicional daqueles que te acolhem como parte de um bem precioso e indispensável. Tá sentindo? Sentiu um calor te abraçar? Não sentiu? Tenta de novo… ás vezes queremos enxergar o que a vida nos deu apenas para sentir.

Te amo

Published in: on julho 16, 2011 at 12:55 pm  Deixe um comentário  

The URI to TrackBack this entry is: https://ascartasdosoutros.wordpress.com/2011/07/16/o-que-vale-a-pena/trackback/

RSS feed for comments on this post.

Deixe um comentário